29 dezembro 2009

Passividade ou Tolerância?

Não vou abusar de metáforas para não correr o risco de não ser claro.

Tenho pensado e vivido alguns conceitos comuns ao nosso tempo: sociedade, espaço, respeito, violência. Já falaram sobre o problema do difícil controle com a enorme extensão das cidades (Rousseau), da intolerância ou tolerância (Marcuse), da sociedade (Freud e Jung) e da violência (Foucault). A minha parte aqui está no quanto ler tudo isso não me mudou – ainda- efetivamente.

Acho que é como ler o Pequeno Príncipe sabe. Quando se é pequeno você lê e ok. Quando se é adulto, você lê, sorri e chora emocionado com Saint-Exupery.

Ultimamente tenho ficado tenso com esses episódios nas salas de cinema de São Paulo. E muitos amigos têm notado o mesmo. As pessoas se apropriaram tanto da cultura do “To pagando”.... que conversam, falam alto durante a sessão, sem se importar com os outros que, teoricamente, foram lá para assistir a um filme. Acho que esse era o grande medo de Adorno ao pensar a Arte como negação; a massificação das coisas fazer as pessoas perderem qualquer limite de onde é a sala de estar da casa delas e de onde é o espaço público. Dessa vez não suportei uma criança de 4 anos a chorar, levada pelos pais para assistir a projeção de um filme de terror. Resisti menos ainda ao casal barulhento que conversava sobre as cenas atrás de mim. Coitados, eles sequer viram problema em estarem conversando. Vide o que o homem do casal me disse : “Mas está todo mundo conversando”. Perdi a linha. Fiz escândalo. Fui alertado sobre os perigos de ter feito isso por alguém que me ama.

- “Nós poderíamos ter levado um tiro!”

Achei que poderia ser uma possibilidade, mas eu não poderia suportar aquilo calado. Pra mim seria ser permissivo. Conivente.

Na ordem dos acontecimentos li uma coluna da Soninha na Vida Simples “Odeie seu Ódio”. E que raiva me deu da Soninha. Tão ativista. Forte para querer mudar os mundos ao redor dela. Tendo essa postura passiva que eu condeno tanto?

E o mundo continuou girando e esfregando na minha cara como está. Até o estalo.

Meu melhor amigo me liga há pouco para falar que procedia tomar cuidado com OS OUTROS visto nosso nível de exigência e, certa intolerância. E disse:

- Na mesma noite que você foi tomar café da manhã, de madrugada, na Dona Deôla, no nobre bairro de Higienópolis, poucos minutos depois de sua saída, um jovem foi esfaqueado pelo ‘segurança’ da padaria após uma discussão.

Esse foi o alerta do meu melhor amigo. “Tome cuidado”. Ele lembrou ainda de um dia que uma mulher cortou a frente do carro dele e buzinava histericamente. Eu, extremamente incomodado com a grosseria com uma pessoa que amo tanto, passei pela mulher a vociferei algo que não lembro bem. Depois (só soube disso hoje) a ‘segurança’ do estacionamento que estávamos foi falar com meu amigo e disse:

- Fale para seu amigo ter cuidado. Sei que a mulher estava sendo desagradável. Mas eu, que trabalho aqui, estou cansada de ver gente que dá tiro, e age com violência com outras pessoas por bobagens. Fala pra ele não fazer mais isso que pode dar de cara com um louco desses!

Fofa a mulher não é? Pois é, e ela emendou:

- Sabe, eu sou policial também. E se o seu amigo tivesse xingado a mim, eu perderia a cabeça e não me custaria muito dar um tiro nele.

Meu amigo, chocado, e também perdendo a noção do perigo, retrucou:

- Então você não deveria ser policial né?!

Arriscou-se naquele momento também. Vai saber que tipo de louca ela era?

Bem, não querendo ser um desses loucos. Decidi fazer de 2010 um ano de tolerância. E fui ler sobre a notícia do garoto morto na padaria. Foi então que vi a foto. O garoto estudou comigo em um colégio nobre de São Paulo. Ele não era dos sujeitos mais calmos da classe. E o ‘segurança’ da padaria, bem, ele não era bem segurança. E tampouco estava preparado para orientar pessoas.

O fato é que essas pessoas estão por aí. Com facas na cintura, revólveres devidamente cadastrados e, muitas vezes, deveriam nos proteger. Nem sempre o fazem. Se somos nós quem consegue pensar, que tal não sermos mais agressivos nas palavras e nos pensamentos?

Alguém mais se junta a mim na campanha 2010: Ano da Tolerância!

25 dezembro 2009

Xmas is overrated - 25 de dezembro de 2009


Escrever com o coração me parece menos nobre que escrever com a alma. Geralmente, tento acalmar o coração dando voz a ele. E o que a alma sente? O único tom realmente intangível. Composta de sentimentos inomináveis.

Nada de música para escrever hoje. Sem trilha sonora que possa corromper, maquiar ou ocultar o que é sugado pelo buraco negro da alma que tudo cria, tudo destrói e reconstrói.

Neste momento, as letras são uma energia escondida para desvelar o que está escondido pelos desconfortos dos excessos de vodka e taurina gasosa da noite anterior. As cansativas superações dos supostos limites do corpo para se manter dançando músicas com batidas eletrônicas que já não ecoam pela cabeça quando as luzes da translação da Terra e o revelar do dia expõem o esgotamento de uma cultura- ainda em gueto- colorida, nomeada alegre.

Nos primeiros espasmos de claridade do início do dia, os G´s, E´s, Crystais, balas e tantos outros, dão sinais que já não surtem mais efeitos no sistema nervoso central. Agora percorrem pelo rio de sangue, sintetizados até serem expelidos. Voltam as lembranças sobre esquecer-se do vício de lamentar-se por tomadas de supostas tentativas de tempos de paz, reconciliação e perdão. As pessoas que supostamente seriam as mais próximas são as que estão mais distantes. E, no fim da noite, as mais próximas voltam a ser tão distantes quanto antes.

São todos pensamentos da noite anterior, que escorrem no dia seguinte, entre altas dosagens de hidróxido de alumínio para acalmar o enjoo, e de boldo, para pedir carga extra ao fígado. Remédios naturais e drogas sintéticas.

As letras compõem palavras com a promessa de serem remédios internos que farão jus ao espírito do natal. O chá ainda quente lembra que a alma está vinculada ao corpo. Ordena que se façam reflexões e pese que, em tempos de festas, tenhamos algum tempo extra para refletir.

Refletir com leveza. Refletir com esperança. Refletir para mudar. Acima de qualquer evento, doar um pouco a si próprio para refletir sem julgar.

Estamos todo o tempo ocupados demais em julgar, e experimentar a culpa por depreciar os outros e descartamos desistir do cruel auto-julgar.

Que o natal tenha disso. E que seja assim até o último dia 31 do calendário romano. Quando poderemos enfim voltar à crudelidade de nossos tempos.

Imagem: remixagem de deviantART+acervo pessoal

30 novembro 2009

Escravos de Ganho


Os escravos de ganho eram conhecidos à época do Império por realizarem tarefas remuneradas, entregando ao seu proprietário (senhor) uma quantia diária do salário que recebiam trabalhando. Assim acreditavam estar comprando sua liberdade. Algo muito parecido com as organizações de trabalho hoje não é?

Tratados como desconjurados em uma selva onde aqueles que poderiam dividir a maior parte da vida - colegas de trabalho - viram vorazes predadores e qualquer problema se sentem ameaçados pela perspectiva de alguém ter traído a confiança e entregado ao seu algoz. E caso perca aquilo, perderá tudo. Caso tenha um novo trabalho, não irá se dedicar. Afinal, é mais um trabalho ameaçador e temporário.

As pessoas são contratadas para uma vaga, trabalham por duas, são remuneradas por metade de uma delas na esperança de um dia serem donas do próprio nariz.

Nessa roda desafortunada dançam funcionários, colaboradores, PJ´s, contratados, celetistas, celetistas FLEX, efetivos, quase efetivos...

23 novembro 2009

Academia

Me disseram que eu iria ter mais disposição. Cada vez mais cansado......

15 novembro 2009

Corpo meio cheio ou meio vazio?


Em busca de segurança feudal e troca das dores da liberdade pelo pertencimento ao grupo e segurança, algumas drogas receitáveis parecem aflorar um aspecto imanente da natureza humana. Comer é fundamental para sobreviver. Comer muito serve para além de preencher o vazio do estômago, preencher o vazio da alma ou aquietar a mente. Como se nada dentro de nós pudesse ficar vazio. Boca, garganta, estômago, intestino grosso, delgado, reto.

Algo como se no decorrer de nossos dias as mãos não pudessem ficar vazias por muito tempo e, por isso os anéis, as canetas, os cigarros, as armas, as luvas e os carros. Nem sequer pés desnudos: as caminhadas, academias, esteiras, bicicletas, sapatos, escalda-pés, kung-fu e capoeira. Nem mesmo a alma. Amores, religiões, drogas, meditação, regressão de vidas passadas, presentes e tarô.

E a mente? Terapia, artes, conversas, diálogos, triálogos, bacanais, escola, mais escola, congressos e cursos, palestras, livros e filmes. E então, quando percebemos as mãos estão doloridas e o dedo indicador paralisado com tendinite pelo scroll do rato que mexe o cursor do computador.

E o estômago com câimbras agudas por ter engolido tanta comida, traumas, desmandos e prazeres. Spinoza disse para fugirmos das paixões tristes. E o capitalismo, o que diz? Que não se destrói se supera. Os incômodos não são “antecedíveis”, então, evite os exageros diários. Se fosse assim seria fácil. Alguém aí consegue lembrar o quanto sofreu da última vez que comeu em exagero, apaixonou-se, quebrou o pé, o dente, teve cólica renal? Sempre esquecemos e superamos aquele ponto. E reincidimos. E se é assim, que seja reincidir pelas paixões felizes.

09 novembro 2009

Calvário

Quando deu 16h recebi uma ligação:

- Ricordo?
- Sim, sou eu.
- Antonio, tudo bem? Tô te ligando pra falar que consegui um preço melhor...
- Hum....
- Você vem hoje?
- Pode ser...
- Às 19h30?
- Pode ser...
- Não vou estar aqui. Procure o Eric.

Bom a partir daí comecei a gelar. Taquicardia.

Indo para lá pensei em desistir. Parecia um blind date.

- Oi Ricordo. Você veio!
- Pois é, mas tô pensando em não ficar.

E eis que uma criatura alucinada que costumava jogar barras de cereal na balada justificando que era pra quem estava fritando ter um pouco de açúcar grita:

-Ricooooooooordo. Você!!! Entra logoooooooooooo. Vem vem!!! Libera pra ele. É meu amigo.
- Não não.... só vim dar uma passadinha.

Resultado. Não teve escapatória. Fiz a matrícula. A academia começa amanhã pra mim.


08 novembro 2009

A volta dos Lanterninhas

Há algum tempo tenho tentado entender o que se passa nas salas de cinema de São Paulo. Que embotamento é esse para experimentar arte? Será que cinema ainda é arte? Equipamentos de som de 'última geração' (sucata alheia ou não sempre melhor ao que já tínhamos por aqui); poltronas mais espaçosas; IMAX; a maior tela da América Latina e tantas outras melhorias para tornar uma sessão de cinema uma experiência única (não era esse o conceito de arte? (cadê Adorno para criticar a indústria cultural nessas horas?)

Certo, acho que é exatamente isso que acontece. Uma experiência de auto- controle. De paciência. De animalidade. Sim, porque é exatamente essa impressão que tenho tido ao assistir filmes nas mais diferentes salas de cinema.

A primeira tentativa foi O Anticristo no Shoping Bourbon (Unibanco). Filme de Lars dá para imaginar o sofrimento não dá? Pois é. Acho que ele mudou o estilo para comédia e eu não consegui entender. Afinal, a cada tomada sobre o anticristo que temos dentro de nós algumas pessoas riam copiosamente. E foi assim o filme todo. Conversando com a gerente do cinema a justificativa foi que tinha gente de todo tipo ali. E não é assim o mundo? Gente de todo tipo? Estou sem entender até agora. Claro que fiz uma sugestão/ reclamação (era a segunda vez que via um filme dramático com as pessoas gritando e rindo. Alguém entende as pessoas ficarem rindo da miséria humana? O outro filme foi o tenso Salve Geral). Sugeri os famosos 'lanterninhas'. Ninguém me respondeu.

A segunda vez foi no Shopping Vila-Lobos. Agora, Cinemark. Dessa vez para ver O Contador de Histórias. Mais uma vez um bando de adolescentes (esse deve ser o coletivo para a maioria dos adolescentes- BANDO) que riam da ingenuidade da simpática e otimista Maria de Medeiros de Margherit Duvas.

Então percebi qual seria o provável problema. Salas de cinema dentro de shoppings Center. Essa semana fui assistir curioso Deixe ela Entrar. Dessa vez no Espaço Unibanco. As pessoas não gritavam... muito. Mas, como nada é perfeito o filme foi projetado na decadente sala 4. Cheiro de mofo, cadeiras esgarçadas, áudio descompensado e gente entrando atrasada, e passando na frente de quem chegou no horário sem a menor cerimônia.

Fui eu que fiquei rabugento ou as pessoas têm cada vez mais noção sobre os limites espaço público?

19 outubro 2009

Amigos e Web: Chiaro/escuro

O post de um amigo Amigos de MSN me fez pensar. Ali ele diz que a internet trouxe certa proximidade que agora distancia. Certamente que a ideia de ter uma ou outra janela inteligente como ouvinte para conversar ou, simplesmente ser ouvido é agradável. Mas, eu mesmo não faço isso há tempos. Lembro que a última vez que saí com esse meu amigo ele me contou de algo que parecia estar acontecendo que o preocupava. Insisti algumas vezes para ele dizer. Respeitei o silêncio. No dia seguinte mandei uma mensagem de texto perguntando se estava tudo bem. Que se precisasse de algo poderia contar comigo. Sequer recebi de volta um "obrigado" ou "não enche" ou ainda "você não pode ajudar". E isso me fez pensar. Quanto de auto-indulgência não tem em nossas reflexões?

Isso me lembra algo ainda mais perturbador que tenho vivido nos últimos anos. A angústia de perceber que tem muita coisa e pouquíssimo tempo. Tem aquele video que diz que hoje, em uma edição do NY Times temos mais conteúdo que toda uma vida de alguém que viveu no renascimento. E olha que eles poderiam ter um monte de chiaro/escuro. E então eu pensei. Orkut, Facebook, Limão, Twitter, MSN, Gtalk.. e o que tudo isso tem por trás? Pessoas!
AS pessoas que eu realmente estou próximo eu sequer falo por ali. Paixão, grande amiga de jantares semanais, amiga de país distante de telefonemas, amigo de baladas/bares/cinema e afins. A turma do trabalho que é uma forma saudável de relacionamento.
Mas não nego que sinto saudades daquele amigo do começo da mensagem. É que, diferente do trabalho que eu planejo estratégias de exposição em redes sociais digitais, não me sinto a vontade fazer isso com amigos.

Então, alguns entendem certo sumiço. Outros não...

09 outubro 2009

Por que certa melancolia?


Por conta dos momentos mágicos proporcionados pela aura de encantamento que envolver ser fã. O tal do gene “Jenny”.

Sentir-se reconhecido por alguém que você considera inatingível, divino, soberano. A fantasia que envolve esses momentos transporta do labiríntico cotidiano e seus conflitos para um universo paralelo onde uma força impulsiona para conseguir o melhor lugar do concerto. O melhor ângulo. Um gesto sincrônico no tempo certo. Um apelo atendido por alguém que é apenas tão humano quanto nós. E não esqueceu disso.

Ao fim da jornada sempre parece que poderia ter ido adiante. E as ideias voltam a ser P&B até reconquistarem uma palheta básica de tons pastéis para colorir os dias.
E essa realidade, o que é senão a tentativa de conseguir cores vivas e orgânicas? Um plano de vida que avança e suplica por mais fantasia.

08 agosto 2009

Ode à vida

Pensei em escrever um longo texto. Poético. Algo que dissesse, com um toque quase divinal, o que tem acontecido comigo nos últimos anos. Algo que começou no sabático período de depressão em 2003. Que permeou minha vida até agora. E, que me ajudasse a entender por que eu sinto um bolo no estômago, algumas noites não tão bem dormidas e dias menos plenos do que pedem para ser. Algo que falto em dizer.

É mais simples que um grande texto, crônica, prosa ou verso que floreie os meus verdadeiros anseios.

Em um mundo de belezas e também injustiças. De expiação ou de destino final. Não importa. Todos os dias fazemos uma escolha para sair da cama.

Eu, todos os dias eu escolho vocês. Reafirmo esse compromisso por vocês. Pessoas que eu realmente quero. Pessoas fortes e livres. Pessoas de carne, osso, espírito e sentimentos. Particulares e comuns entre si, em essência. E o que eu tenho a dizer é que, junto dos meus pais e irmãos, vocês são as pessoas mais importantes da minha vida.

25 janeiro 2009

Do sentir e o amor


O que fazer da vida? Quem são seus amigos de verdade? O que é de verdade? O que é ‘é’? Algo existe? Todas as escolhas são fundamentadas nos desejos coronários? Afinal, o coração é apenas uma máquina? Existe um desejo e escolha da alma?

Me parece que tudo é uma opção não fundamentada em nada. A única fundamentação que existe é para a escolha racional. Nas escolhas da alma não existe lógica. Não existe explicação. É inconcebível. É como descrever a palavra. Descreva o que é uma palavra. Percebe o quanto é ilógico? Para a razão, explicação, lógica... as escolhas ‘de coração’ soam como escolhas aleatórias pois, se não as são, deixam de ser ‘de coração’. Tornam-se baseadas na lógica. Não existe coerência nesse caso. Existe certa sinergia com algum elemento químico produzido entre o córtex cerebral e a medula espinhal que cria os sentimentos. Em verdade não os cria. Os expõe, torna-os perceptíveis. A criação é um processo/ação que diz respeito a tirar algo do nada para a existência. Ocorreu-me que o nada não é a insistência total das coisas. É não poder ser enxergado por qualquer um de nós. Ou pela maioria.

Bem se o sentimento é algo criado com base no repertório de vida, meio ambiente que interage conosco e, por fim, trazendo para a existência através de sinapses e processos neurais, o amor entra na mesma toada? Pensei em pesquisar o amor para os filósofos, autores, diretores, cientistas. Desisti da idéia e preferi tentar me aproximar do amor. Sentir. Que palavrinha magnífica essa. SENTIR (receber uma impressão). Quem inventou a linguagem? A das palavras. Cada palavra tem em si uma reflexão única.

As palavras têm dessas coisas. Exercem um fascínio que nos impele a explicar, justificar, descrever tudo. Dessa vez não minhas caras amigas. Vou apenas sentir.

24 janeiro 2009

Paixão segundo RL

"Não. Sei que ainda não estou sentindo livremente, que de novo penso porque tenho por objetivo achar - e que por segurança chamarei de achar o momento em que encontrar um meio de saída. Por que não tenho coragem de apenas achar um meio de entrada? Oh, sei que entrei, sim. Mas assustei-me porque não sei para onde dá essa entrada. E nunca antes eu me havia deixado levar, a menos que soubesse para o quê." - Clarice Lispector

Um final de desfile de moda. Um término de vida em roda. Depois de horas e quartos de horas, minutos e centésimos de segundos onde tudo muda, em um rompante de insanidade, coloquei porta a fora o meu amor. Um amor que eu chamava DE, mas, sequer sabia aonde iria me levar. Tal qual na paixão segundo G.H., perdi a terceira perna do tripé que me sustentava. Apenas no hoje que se fará ontem, cambaleando, sai a andar ao redor de minhas únicas duas pernas e pés na esperança de chegar a algum lugar. Lugar que me acariciasse.

Dois ou três passos passados e, caí no cimento duro. Levantei-me para esgueirar-me até uma taça de vinho sôfrego que restou do último jantar para re-encantar o teor etílico que dá o certificado para o sofrer. O último vinho. A última garrafa. E pensar que amanhã seriam pisadas uvas que fariam novos vinhos...



Vinhos, amores, jantares, paixões- o jogo. Quando o amor é um jogo, alguém sempre sai perdendo. Quando é passatempo, alguém acaba enjoando. Quando é um não-sei-o-quê... vislumbramos que poderíamos ter sido felizes. E seríamos? Fomos? Seremos? Reverberações de um coração embriagado que pede às pernas apenas mais alguns passos até o leito. Às plumas de ganso, penas enfim, darão o conforto e a carícia para acordar para uma nova montagem humana.

16 janeiro 2009

Bazaines

De encontros e reencontros os tempos passam. Uma convivência mais leve. Um desligar de conversas. Algo não muda. Algumas definições são eternas.

Vou me valer de Albert Camus, em A Queda:
“Quanto aqueles cuja função é amar-nos, quero dizer, a família, os aliados (que expressão esta!), isso é outra história. Têm a palavra necessária, sim, é verdade que a têm, porém é mais a palavra-bala; telefonam como quem dispara uma carabina. E acertam no alvo. Ah! Os Bazaines!”

Você já descobriu quem é sua família?