25 dezembro 2009

Xmas is overrated - 25 de dezembro de 2009


Escrever com o coração me parece menos nobre que escrever com a alma. Geralmente, tento acalmar o coração dando voz a ele. E o que a alma sente? O único tom realmente intangível. Composta de sentimentos inomináveis.

Nada de música para escrever hoje. Sem trilha sonora que possa corromper, maquiar ou ocultar o que é sugado pelo buraco negro da alma que tudo cria, tudo destrói e reconstrói.

Neste momento, as letras são uma energia escondida para desvelar o que está escondido pelos desconfortos dos excessos de vodka e taurina gasosa da noite anterior. As cansativas superações dos supostos limites do corpo para se manter dançando músicas com batidas eletrônicas que já não ecoam pela cabeça quando as luzes da translação da Terra e o revelar do dia expõem o esgotamento de uma cultura- ainda em gueto- colorida, nomeada alegre.

Nos primeiros espasmos de claridade do início do dia, os G´s, E´s, Crystais, balas e tantos outros, dão sinais que já não surtem mais efeitos no sistema nervoso central. Agora percorrem pelo rio de sangue, sintetizados até serem expelidos. Voltam as lembranças sobre esquecer-se do vício de lamentar-se por tomadas de supostas tentativas de tempos de paz, reconciliação e perdão. As pessoas que supostamente seriam as mais próximas são as que estão mais distantes. E, no fim da noite, as mais próximas voltam a ser tão distantes quanto antes.

São todos pensamentos da noite anterior, que escorrem no dia seguinte, entre altas dosagens de hidróxido de alumínio para acalmar o enjoo, e de boldo, para pedir carga extra ao fígado. Remédios naturais e drogas sintéticas.

As letras compõem palavras com a promessa de serem remédios internos que farão jus ao espírito do natal. O chá ainda quente lembra que a alma está vinculada ao corpo. Ordena que se façam reflexões e pese que, em tempos de festas, tenhamos algum tempo extra para refletir.

Refletir com leveza. Refletir com esperança. Refletir para mudar. Acima de qualquer evento, doar um pouco a si próprio para refletir sem julgar.

Estamos todo o tempo ocupados demais em julgar, e experimentar a culpa por depreciar os outros e descartamos desistir do cruel auto-julgar.

Que o natal tenha disso. E que seja assim até o último dia 31 do calendário romano. Quando poderemos enfim voltar à crudelidade de nossos tempos.

Imagem: remixagem de deviantART+acervo pessoal

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