Não vou abusar de metáforas para não correr o risco de não ser claro.
Tenho pensado e vivido alguns conceitos comuns ao nosso tempo: sociedade, espaço, respeito, violência. Já falaram sobre o problema do difícil controle com a enorme extensão das cidades (Rousseau), da intolerância ou tolerância (Marcuse), da sociedade (Freud e Jung) e da violência (Foucault). A minha parte aqui está no quanto ler tudo isso não me mudou – ainda- efetivamente.
Acho que é como ler o Pequeno Príncipe sabe. Quando se é pequeno você lê e ok. Quando se é adulto, você lê, sorri e chora emocionado com Saint-Exupery.
Ultimamente tenho ficado tenso com esses episódios nas salas de cinema de São Paulo. E muitos amigos têm notado o mesmo. As pessoas se apropriaram tanto da cultura do “To pagando”.... que conversam, falam alto durante a sessão, sem se importar com os outros que, teoricamente, foram lá para assistir a um filme. Acho que esse era o grande medo de Adorno ao pensar a Arte como negação; a massificação das coisas fazer as pessoas perderem qualquer limite de onde é a sala de estar da casa delas e de onde é o espaço público. Dessa vez não suportei uma criança de 4 anos a chorar, levada pelos pais para assistir a projeção de um filme de terror. Resisti menos ainda ao casal barulhento que conversava sobre as cenas atrás de mim. Coitados, eles sequer viram problema em estarem conversando. Vide o que o homem do casal me disse : “Mas está todo mundo conversando”. Perdi a linha. Fiz escândalo. Fui alertado sobre os perigos de ter feito isso por alguém que me ama.
- “Nós poderíamos ter levado um tiro!”
Achei que poderia ser uma possibilidade, mas eu não poderia suportar aquilo calado. Pra mim seria ser permissivo. Conivente.
Na ordem dos acontecimentos li uma coluna da Soninha na Vida Simples “Odeie seu Ódio”. E que raiva me deu da Soninha. Tão ativista. Forte para querer mudar os mundos ao redor dela. Tendo essa postura passiva que eu condeno tanto?
E o mundo continuou girando e esfregando na minha cara como está. Até o estalo.
Meu melhor amigo me liga há pouco para falar que procedia tomar cuidado com OS OUTROS visto nosso nível de exigência e, certa intolerância. E disse:
Esse foi o alerta do meu melhor amigo. “Tome cuidado”. Ele lembrou ainda de um dia que uma mulher cortou a frente do carro dele e buzinava histericamente. Eu, extremamente incomodado com a grosseria com uma pessoa que amo tanto, passei pela mulher a vociferei algo que não lembro bem. Depois (só soube disso hoje) a ‘segurança’ do estacionamento que estávamos foi falar com meu amigo e disse:
- Fale para seu amigo ter cuidado. Sei que a mulher estava sendo desagradável. Mas eu, que trabalho aqui, estou cansada de ver gente que dá tiro, e age com violência com outras pessoas por bobagens. Fala pra ele não fazer mais isso que pode dar de cara com um louco desses!
Fofa a mulher não é? Pois é, e ela emendou:
- Sabe, eu sou policial também. E se o seu amigo tivesse xingado a mim, eu perderia a cabeça e não me custaria muito dar um tiro nele.
Meu amigo, chocado, e também perdendo a noção do perigo, retrucou:
- Então você não deveria ser policial né?!
Arriscou-se naquele momento também. Vai saber que tipo de louca ela era?
Bem, não querendo ser um desses loucos. Decidi fazer de 2010 um ano de tolerância. E fui ler sobre a notícia do garoto morto na padaria. Foi então que vi a foto. O garoto estudou comigo em um colégio nobre de São Paulo. Ele não era dos sujeitos mais calmos da classe. E o ‘segurança’ da padaria, bem, ele não era bem segurança. E tampouco estava preparado para orientar pessoas.
O fato é que essas pessoas estão por aí. Com facas na cintura, revólveres devidamente cadastrados e, muitas vezes, deveriam nos proteger. Nem sempre o fazem. Se somos nós quem consegue pensar, que tal não sermos mais agressivos nas palavras e nos pensamentos?
Alguém mais se junta a mim na campanha 2010: Ano da Tolerância!
3 comentários:
Guapo, que fuerte! Outro dia estive pensando sobre a capacidade do ingles de nao falar o que pensa. Depois do exercicio mental enquanto dirigia pelo tapete branco a 40km/h entendi que a paciencia em dirigir com cautela, a tara por filas desenvolve no ingles a paciencia que eu imagino que esta leve-os a tolerancia. Por outro lado ha um segundo resultado, a sociedade hipocrita. Mas estou contigo. Pacto da tolerancia!
mas não é revoltante que a gente tenha que ser tolerante para se proteger da intolerância de outras pessoas? pra mim, é. ter que respeitar sem ser respeitada... oi? não era pra ser assim.
fui ao cinema ontem. uma velha passou os primeiros e eletrizantes 5 minutos do filme em pé na minha frente gritando com um sotaque deprimente "mas onde q eu sento?". 3 criaturas de uns repugnantes 14 anos sentadas atrás de mim atualizaram as fofocas durante os 40 minutos finais do filme. ainda bem q não tenho uma arma...
é isso... explica isso pro ex!!!!
menelau!
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