30 setembro 2013

A fúria de um deus Sobre como ser você ....

...e entender que Morholt sempre cobra o tributo de Tristão na ponta da espada

“O farther, farther, farther sail!"- Walt Whitman, Passage to India.

Uma vez ouvi que nossos parceiros afetivos não são nada mais que um empréstimo do universo na nossa evolução. Que só por meio do outro é que somos capazes de nos enxergar. Isso derrubou por terra a minha ideia romântica de que existia um par perfeito. Refutei essa afirmação por algum tempo.

Algumas luas e sóis depois,  e algumas farpas pequenas fincadas entre os dedos também,  percebi que isso tudo é verdade.  Nunca se trata do outro. Trata-se apenas de nós mesmos.

Nossos medos,  inseguranças,  desejos e rancores. Quando uma pessoa diz que te ama, ela só diz porque é você que está ali naquele momento.  Por uma seleção do destino, dos humores e até mesmo dos hormônios e pulsões de vida ou de morte, você foi o escolhido. Mas as prováveis mesmas palavras seriam ditas se não fosse você. Se fosse outra pessoa. Isso porque o objeto de amor, em geral, é o próprio emissor daquele sentimento. Sobre como a própria pessoa vai se sentir bem e não o objeto em si. E o mesmo se aplica ao outro lado.

Algumas pessoas têm a sorte de encontrar pares que não aceitam o que aparecer sem filtro. Mas não se iluda amigo. Mais uma vez não se trata de VOCÊ ser especial. O outro vê tantos especiais que você é apenas o rio que corre agora. Ainda sim, o objeto de amor receberia atenção como qualquer outro. Mais uma vez, não que você ou eu sejamos especiais aos olhos do outro. Apenas somos, naquele momento, inspiradores da canalização daquele desejo.


Posto isso, consigo chegar à conclusão, pela primeira vez em meia vida - e, por mais piegas e triste que seja-  devemos ser nós mesmos a pessoa mais importante de nossas vidas.  Não devemos colocar ninguém na frente e, muito menos, esperar isso de alguém. Ninguém estará lá sempre por mim ou por você. Exceto nós mesmos. Ninguém ama o objeto tão magnanimamente a ponto de tirar de si próprio a energia que está direcionando. Talvez as mães sejam as únicas, mas não todo o tempo. São elas também humanas.