15 novembro 2009

Corpo meio cheio ou meio vazio?


Em busca de segurança feudal e troca das dores da liberdade pelo pertencimento ao grupo e segurança, algumas drogas receitáveis parecem aflorar um aspecto imanente da natureza humana. Comer é fundamental para sobreviver. Comer muito serve para além de preencher o vazio do estômago, preencher o vazio da alma ou aquietar a mente. Como se nada dentro de nós pudesse ficar vazio. Boca, garganta, estômago, intestino grosso, delgado, reto.

Algo como se no decorrer de nossos dias as mãos não pudessem ficar vazias por muito tempo e, por isso os anéis, as canetas, os cigarros, as armas, as luvas e os carros. Nem sequer pés desnudos: as caminhadas, academias, esteiras, bicicletas, sapatos, escalda-pés, kung-fu e capoeira. Nem mesmo a alma. Amores, religiões, drogas, meditação, regressão de vidas passadas, presentes e tarô.

E a mente? Terapia, artes, conversas, diálogos, triálogos, bacanais, escola, mais escola, congressos e cursos, palestras, livros e filmes. E então, quando percebemos as mãos estão doloridas e o dedo indicador paralisado com tendinite pelo scroll do rato que mexe o cursor do computador.

E o estômago com câimbras agudas por ter engolido tanta comida, traumas, desmandos e prazeres. Spinoza disse para fugirmos das paixões tristes. E o capitalismo, o que diz? Que não se destrói se supera. Os incômodos não são “antecedíveis”, então, evite os exageros diários. Se fosse assim seria fácil. Alguém aí consegue lembrar o quanto sofreu da última vez que comeu em exagero, apaixonou-se, quebrou o pé, o dente, teve cólica renal? Sempre esquecemos e superamos aquele ponto. E reincidimos. E se é assim, que seja reincidir pelas paixões felizes.

Um comentário:

Tally M. disse...

por mais arriscado que seja exagerar, não será o melhor caminho? afinal, ainda não tenho provas de reencarnação... rs