“Durante quinze dias estive passeando pela cidade, entre os pobres. Pediram-me tudo o que o senhor possa imaginar, menos a camisa. Provavelmente ignoram o caminho do bem.” L.A.*
Seja em tempos de paz, seja em tempos de guerra, existe o
som. O som da chaleira que anuncia a manhã com um negro e denso café a perfurar
a névoa de um novo despertar. O som de recarregar do rifle, cortante e seco a
criar novos espaços.
Ao contrário do Diabo do conto de Leonid Andreiev, não busco
mais o bem. Busco o justo. Afinal, não sou Diabo, tampouco sou sacerdote. Sou
algo no meio disso tudo que sente. Nem sempre entende, muito menos explica,
apenas, sente.
Sinto e sou sentido. Sempre com música. Tocada em forma de orquestra ou falada em forma de trovadorismo. Não quero ser artista nem plebeu.
Quero ser vassalo. Ter alguma importância para poucas pessoas. Menos idolatrado
e mais valorizado por aqueles que tenho apreço. Menos paranoia e mais
aprimoramento. Por instagram ou Facebook, me alegra poucos terem curtido. Assim
me aproximo de quem interessa. Já disseram os filósofos da Antiguidade clássica
que cinco era o número máximo de amigos que uma pessoa poderia ter. Os amish
têm no máximo 150 pessoas por comunidade. O resto faz parte de nosso grupo de empatia.
As pesquisas recentes de Oxford mostram que existem alguns grupos de intimidade
e, jamais, ultrapassam 150. Em comum, todos têm alguma forma de música.
E o que tudo isso tem a ver com silêncio? É no silêncio que
conseguimos nos emancipar, expandir e transcender. E onde se tem silêncio? Na
música! Explico:
É impossível silêncio completo senão em uma câmara
hermeticamente fechada. Todos os lugares contêm algum tipo de som. O som dos
eletrônicos, dos animais, do ruflar das asas de um inseto, de nossa própria
respiração.
Silêncio completo só ao se concentrar nas notas
cautelosamente desenhadas antes de formarem uma bela canção. Dessas que
hipnotiza. Que faz a batuta do maestro rasgar o ar, as caixas de som das casas
de show trepidar. Todos os sons que fazem nosso tímpano reverberar. Tão
importante que é esse sentido, é, o ouvido o mais protegido. O órgão espiral que
nos faz ouvir flutua em líquido ajudando à absorver vibrações por acidente.
Envolvido pelo osso petroso, abriga as células ciliadas. As mesmas células que
os aviões e seus ruídos destroem uma a uma.
Lembro-me bem de ler Oliver Sacks (Alucinações Musicais) ter
escrito que ouvir música não é apenas auditivo e emocional. É algo motor. Para
mim, som é primeiro-motor, o átomo primordial. O Big Bang cria o mundo. O som
cria a vida.
A vida não é boa nem ruim. A vida é som que ressoa diferente
para cada pessoa visto que ouvimos desde o período natal. No tempo embrionário.
Na eternidade astral.
Não quero ser bom. Quero apenas ser, humano....
Um comentário:
tão despretensioso e tão lindo... lia e parecia q te ouvia falando! e lembrava de vc dizendo q sou cerumana. hahaha... vc tb é. cerumano. menelau humano.
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