02 julho 2012

Templos do Silêncio e o Big Bang

“Durante quinze dias estive passeando pela cidade, entre os pobres. Pediram-me tudo o que o senhor possa imaginar, menos a camisa. Provavelmente ignoram o caminho do bem.” L.A.*
Seja em tempos de paz, seja em tempos de guerra, existe o som. O som da chaleira que anuncia a manhã com um negro e denso café a perfurar a névoa de um novo despertar. O som de recarregar do rifle, cortante e seco a criar novos espaços.

Ao contrário do Diabo do conto de Leonid Andreiev, não busco mais o bem. Busco o justo. Afinal, não sou Diabo, tampouco sou sacerdote. Sou algo no meio disso tudo que sente. Nem sempre entende, muito menos explica, apenas, sente.

Sinto e sou sentido. Sempre com música. Tocada em forma de orquestra ou falada em forma de trovadorismo. Não quero ser artista nem plebeu. Quero ser vassalo. Ter alguma importância para poucas pessoas. Menos idolatrado e mais valorizado por aqueles que tenho apreço. Menos paranoia e mais aprimoramento. Por instagram ou Facebook, me alegra poucos terem curtido. Assim me aproximo de quem interessa. Já disseram os filósofos da Antiguidade clássica que cinco era o número máximo de amigos que uma pessoa poderia ter. Os amish têm no máximo 150 pessoas por comunidade. O resto faz parte de nosso grupo de empatia. As pesquisas recentes de Oxford mostram que existem alguns grupos de intimidade e, jamais, ultrapassam 150. Em comum, todos têm alguma forma de música.

E o que tudo isso tem a ver com silêncio? É no silêncio que conseguimos nos emancipar, expandir e transcender. E onde se tem silêncio? Na música! Explico:

É impossível silêncio completo senão em uma câmara hermeticamente fechada. Todos os lugares contêm algum tipo de som. O som dos eletrônicos, dos animais, do ruflar das asas de um inseto, de nossa própria respiração.

Silêncio completo só ao se concentrar nas notas cautelosamente desenhadas antes de formarem uma bela canção. Dessas que hipnotiza. Que faz a batuta do maestro rasgar o ar, as caixas de som das casas de show trepidar. Todos os sons que fazem nosso tímpano reverberar. Tão importante que é esse sentido, é, o ouvido o mais protegido. O órgão espiral que nos faz ouvir flutua em líquido ajudando à absorver vibrações por acidente. Envolvido pelo osso petroso, abriga as células ciliadas. As mesmas células que os aviões e seus ruídos destroem uma a uma.

Lembro-me bem de ler Oliver Sacks (Alucinações Musicais) ter escrito que ouvir música não é apenas auditivo e emocional. É algo motor. Para mim, som é primeiro-motor, o átomo primordial. O Big Bang cria o mundo. O som cria a vida.

A vida não é boa nem ruim. A vida é som que ressoa diferente para cada pessoa visto que ouvimos desde o período natal. No tempo embrionário. Na eternidade astral.
Não quero ser bom. Quero apenas ser, humano....

*http://pt.scribd.com/doc/2086636/A-CONVERSAO-DO-DIABO


Um comentário:

Tally M. disse...

tão despretensioso e tão lindo... lia e parecia q te ouvia falando! e lembrava de vc dizendo q sou cerumana. hahaha... vc tb é. cerumano. menelau humano.