06 dezembro 2012

Engels morreu


Já disseram que homens têm dificuldades generalizadas – as mais íntimas inclusive – ao passarem por riscos financeiros. Não duvido.

A ameaça em perder uma das mais contemporâneas seguranças, o dinheiro, aterroriza até o mais incauto dos homens.

Mesmo Marx só produzia sua obra com o dinheiro advindo de seu ‘amigo’, Engels. Nada me tira da cabeça o grau de intimidade entre eles. O que não foi problema entre os dois , ao passo que a temeridade em não ter recursos financeiros que subsidiem uma existência capitalista pode levar muitos a roleta russa do risco empreender. Ou, do outro lado, ao final do dia, leva muitos outros a se sentirem com palitos nos olhos em suas noites intermináveis e seus punhais sempre levantados.

Com cabeça pesada e sangue prensado, as cifras não saem da mente. Rubras, duras, quebradas. Um nonsense pode tomar conta como droga e tirar o sujeito da realidade. Perder a referência. Sentir-se perseguido. Ao tentar invocar Marx... ops, o mesmo Marx que viveu com dinheiro alheio. Melhor parar por aqui.

Cruel ou não o capitalismo foi o animal mais voraz que existiu. Ou você se torna um, ou é engolido por ele. Afinal, Engels, já não existe. 

25 setembro 2012

CARDÁPIO DO DIA: Amelie e os contos de fadas existem


De “nunca se apaixone por um trapezista, pois quando menos esperar estará em baixo dele” à “seu coração não é de vidro, então quebre a cara”, Amelie Poulain deixa de fugir de encarar a realidade para saber exatamente o que quer. E não é o que todos nós, sonhadores queremos?

Um cacoete, um ritual, uma mania. De uma forma ou de outra, todos somos seres idiossincrásicos, pelo menos quem chegou até aqui.
Arrumar a bagunça dos outros ou criar laços? Essa é grande centelha que distancia Amelie de Pollyana – uma menina ingênua quase infantil para sempre.

Amelie não. Não faz o Jogo do Contente. Isso pode funcionar em a Vida é Bela, não em um Fabuloso Destino. Guido quer sobreviver e abrandar os olhos de seu filho, Giosuè, Amelie quer encontrar e compartilhar o Amor.

Quantas vezes sabemos o que realmente queremos na vida? Não é fácil escolher ser feliz – e não ouse rebater que felicidade é um momento, não um caminho. Somos categoricamente marcados pelo sentimento castrador que, um dia, imaginaram necessário para vivermos em sociedade.

Culpa, medo, castigo, céu e inferno são palavras cunhadas por quem não conseguiu explicar o que é o amor, o que é felicidade. Não é um amor romântico que definha tão logo o colágeno se esvai. É viver o amor.

E quem arrisca dizer que amor é esse? Justamente nossa vontade de sermos reconhecidos em vida, após a morte, termos uma história digna de ser narrada. Queremos um Fabuloso Destino. Para isso, precisamos de amor-Próprio.

Muitas vezes eu me pego imaginando o que quero que aconteça. E o que eu quero? Voar por entre prédios, segurar um meteoro que pretende colidir com a Terra e destruir tudo que eu acho bonito aqui, pilotar um caça soltando comida e aparelhos tecnológicos para povos menos favorecidos economicamente pela África (afinal, me encanto com essas quinquilharias). Jamais imagino colidir em uma torre, pulverizar agente laranja ou napalm. Confesso, tenho vontade de enfiar juízo na cabeça de alguns grupos religiosos, mas o que seria da dialética sem eles?

O fato é, não percamos tempo imaginando uma vida que não seja extraordinária. Vamos devolver ao mundo apenas as coisas magníficas que recebemos. E o que nos fizeram de ruim? Ahm, mas o que é ruim mesmo? Tenho preferido não me prender a isso.

O que fica é embarcar nesta fabulosa jornada e entender que a brevidade da vida se limita à grandeza do amor a ela. Agora sim, a única lição religiosa que realmente deve ser levada à cabo: “ame o próximo como a ti mesmo” – e não pode se amor pouco hein.


31 agosto 2012

Certo ou Mal?


Acreditar que existe o ‘bem’ e o ‘bom’ é uma forma ariana de pensar. Figura existir um ‘certo’ e um ‘errado’, tendo o certo como algo que deva ser cumprido e, o errado, a força dialética que mantém o impulso para seguirmos adiante.

Ambos deveriam coexistir sem significarem objetos carregados de valor moral. Apenas forças opostas que, no caminho da vida e no rumo da história, penderiam de um lado a outro. Algo como preferência sexual, profissional, pelo campo ou pela praia.
        
Na perseguição pelo bem e pelo certo, assumimos soberanamente ou, pretensiosamente, que somos seres superiores. Como os seguidores de Heaven’s Gate - uma seita em que escolhidos se suicidaram na passagem do cometa Halle-Bopp na intenção de irem direto para o Paraíso-  ou como os estudantes abastados do colégio de uma metrópole que mais coloca alunos na USP, quem sabe até mesmo os VIP´s das boates e festas da moda.


NOTA MENTAL: Danuza Leão talvez tenha sido uma VIP que sobreviva. Isso porque nunca ninguém vai saber como teria sido se ela fosse VIP hoje em um vídeo íntimo divulgado na Internet. Fato é que as pessoas se expõem.


Sejamos roussonianos por pensamento ou hobbesianos por afinidade, as pessoas não são boas ou más por natureza. Nós apenas somos. Tomamos caminhos multidimensionais diferentes dentro das possibilidades infinitas.

Seguidores dos comandos estelares de Ashtar Sheran ou, os quase extintos Drusos, não somos eternos nem finitos. Somos o resultado do ontem que se modifica à duras penas no aqui e agora.

17 julho 2012

Soltar as rédeas dos sentimentos


Tomado de assalto revistamos i lugares-comuns e sentimentos. Inícios são sempre inícios. Um pedaço de vida apanhado. Uma mudança sistêmica nas tomadas de decisões. Será dar o tom deixar tudo como até pouco tempo e apenas ser-estar?

Doação significa algo diferente de consideração. Abrir mão é diferente de partilhar. Algumas vezes fazer sorrir não é o suficiente. É preciso serenar. Quando estiver no limite da autopreservação deverá soltar as rédeas dos cavalos dos sentimentos e deixar cavalgar.

No início o trote pode ser dolorido. Não tarda e a cavalgada parece saltos nas nuvens mais celestes.


Caso cavalgue em um cavalo selvagem, lembre-se, ele pode até ficar próximo para agarrar um torrão ou dois, mas, sua natureza é de pastar longe do bando. Perto das colinas, por entre as matas. Distante do que não tem certeza que possui. Só o que possui são seus próprios cascos. 


Assim que os cascos tiverem endurecidos devemos calçar ferraduras. Mais uma vez o trote vai ser dolorido e o equino arredio. Pra isso servem as aulas de equitação ou as dicas do cavaleiro experiente: junte os dois joelhos pressionando na cela. A força reside ali, não nos pés calçados nos estribos. 

Algum tempo assim e, logo, você descobrirá uma força e um controle que sequer imaginava. O cavalo jamais será domado. Já o cavaleiro poderá sentir-se um pouco mais seguro.


02 julho 2012

Templos do Silêncio e o Big Bang

“Durante quinze dias estive passeando pela cidade, entre os pobres. Pediram-me tudo o que o senhor possa imaginar, menos a camisa. Provavelmente ignoram o caminho do bem.” L.A.*
Seja em tempos de paz, seja em tempos de guerra, existe o som. O som da chaleira que anuncia a manhã com um negro e denso café a perfurar a névoa de um novo despertar. O som de recarregar do rifle, cortante e seco a criar novos espaços.

Ao contrário do Diabo do conto de Leonid Andreiev, não busco mais o bem. Busco o justo. Afinal, não sou Diabo, tampouco sou sacerdote. Sou algo no meio disso tudo que sente. Nem sempre entende, muito menos explica, apenas, sente.

Sinto e sou sentido. Sempre com música. Tocada em forma de orquestra ou falada em forma de trovadorismo. Não quero ser artista nem plebeu. Quero ser vassalo. Ter alguma importância para poucas pessoas. Menos idolatrado e mais valorizado por aqueles que tenho apreço. Menos paranoia e mais aprimoramento. Por instagram ou Facebook, me alegra poucos terem curtido. Assim me aproximo de quem interessa. Já disseram os filósofos da Antiguidade clássica que cinco era o número máximo de amigos que uma pessoa poderia ter. Os amish têm no máximo 150 pessoas por comunidade. O resto faz parte de nosso grupo de empatia. As pesquisas recentes de Oxford mostram que existem alguns grupos de intimidade e, jamais, ultrapassam 150. Em comum, todos têm alguma forma de música.

E o que tudo isso tem a ver com silêncio? É no silêncio que conseguimos nos emancipar, expandir e transcender. E onde se tem silêncio? Na música! Explico:

É impossível silêncio completo senão em uma câmara hermeticamente fechada. Todos os lugares contêm algum tipo de som. O som dos eletrônicos, dos animais, do ruflar das asas de um inseto, de nossa própria respiração.

Silêncio completo só ao se concentrar nas notas cautelosamente desenhadas antes de formarem uma bela canção. Dessas que hipnotiza. Que faz a batuta do maestro rasgar o ar, as caixas de som das casas de show trepidar. Todos os sons que fazem nosso tímpano reverberar. Tão importante que é esse sentido, é, o ouvido o mais protegido. O órgão espiral que nos faz ouvir flutua em líquido ajudando à absorver vibrações por acidente. Envolvido pelo osso petroso, abriga as células ciliadas. As mesmas células que os aviões e seus ruídos destroem uma a uma.

Lembro-me bem de ler Oliver Sacks (Alucinações Musicais) ter escrito que ouvir música não é apenas auditivo e emocional. É algo motor. Para mim, som é primeiro-motor, o átomo primordial. O Big Bang cria o mundo. O som cria a vida.

A vida não é boa nem ruim. A vida é som que ressoa diferente para cada pessoa visto que ouvimos desde o período natal. No tempo embrionário. Na eternidade astral.
Não quero ser bom. Quero apenas ser, humano....

*http://pt.scribd.com/doc/2086636/A-CONVERSAO-DO-DIABO


17 março 2012

Vida é Escolha

Em alguns momentos de nossas vidas nos sentimos vazios, ocos, descobertos de felicidade ou satisfação plena. Preguiçosos que somos dizemos logo:

-É porque estou solteiro.
- É porque estou em um relacionamento ruim.
- Por causa do meu trabalho.
- Porque estou sem trabalho.

Milhares de frases, como as acima, estão sempre na ponta língua. Uma verdade que parece ser mais difícil de alcançar é aquela que vem do esforço. Sortudos os que vêm por um insight. Acaso ou esforço sempre é um lance de sorte. Explico.

Mesmo quando nos esforçamos arduamente, nos empenhamos como nunca antes e temos a maior força de vontade do mundo, nem sempre o resultado – que queremos- é atingido. Longe das verdades absolutas, perto das possibilidades infinitas, me parece que o motivo para nossa frustração reside no nosso sucesso mágico de outras vezes.

Por exemplo, uma vez (ou muitas vezes) usei remédios para emagrecer. Os resultados eram fantástico. Quilos e mais quilos perdidos mesmo comendo carolinas todos os dias. Isso tudo mesmo sem fazer nenhum tipo de dieta balanceada. Algum tempo depois, e doses cavalares aumentadas e o único efeito da medicação foi irritação e falta de sono.

Em outros momentos, tristes e desanimados, lançamos mão de um sem-fim de remédios psiquiátricos para dar um ‘gás’. Nossa produção aumenta e tudo parece ter mais sentido. A energia volta e dizemos estar no melhor momento de nossas vidas. Quem não toma um anti-depressivozinho vez ou outra?

Ou mesmo querendo aproveitar noites sem fim usamos as inofensivas bebidas energéticas combinadas com álcool ou até mesmo uma balinha ou outra droga ‘recreativa’.

Algum tempo depois, e não muito, a vida joga um véu negro sobre nós e já não é tão fácil encontrar aquela deliciosa alegria de viver de antes. Uma conquista ou duas parecem não ser o suficiente. Claro, ‘eu quero sentir aquele big-bang’ de contentamento que sentia antes com a ajuda externa.

É, assim fica cada vez mais difícil emagrecer, animar-se, ter disposição, sentir-se feliz. Aí lançam-se novas drogas e alternativas para conseguir tudo novamente. Tudo mais difícil, poucas vezes não.

Seremos dependentes dos agentes externos eternamente? Os agentes internos dariam conta sozinhos?

Uma coisa é garantida, vida é escolha. E escolhas, são reversíveis. A que preço? Ah.... o preço....  

05 março 2012

Vida era atalho, agora é trabalho

Não vivi tragédias. Não tive histórias de dignas de páginas policiais. O que tenho são dilemas existenciais.
Sofro de busca de sentido na vida. Não aceito uma vida sem sentido. Isso dói às vezes e parece que toda força se esvai.

Hoje, sei que preciso inventar algo que faça sentido pra mim. Ainda assim, não é fácil. Gonzaguinha já disse: vida é trabalho. Eu sempre disse: vida é atalho.
Depois dos 30 entendi que Gonzaguinha era quem estava certo. Ao menos depois dos 30. Por isso, vamos ligar os motores a pleno vapor e deixar o carro desligado na descida pra relaxar um pouco. 

16 janeiro 2012

Zelig Wood e o fim da Lâmpada Mágica

Tenho andado por atalhos há um bom tempo.

O corpo que tive não era meu.

Os jogos de dados mallarmaicos estão deixando de ser um lance de sorte.

Dos três pedidos ao gênio da lâmpada, já usei dois.

As passagens secretas estão se desmontando depois de serem usadas. E as palavras mágicas estão em outras línguas.

Beirando os 30, me dei conta que tudo isso só foi possível por um terço de vida (afinal quem dúvida que possamos chegar aos 90?). Então, o corpo não responde mais com tanta pressa; o cérebro dá sinais de cansaço e não suporta mais a caótica metrópole sem ao menos dar sinais de estafa.

Caminhar até Ítaca por trilhas curtas só dá certo por um período. Ao menos os ciclopes também já estão hipermetropes. Explico: a partir de agora não existirão mais tantas fórmulas milagrosas para conseguir o que se quer sem que haja esforço, foco e perseverança. Os acertos que não precisaram ser rascunhados, agora, requerem folhas e mais folhas de papel amassado até chegar à versão final.

Escrever uma grande obra de cá adiante exigirá muito rascunho.

Não há mais tempo para se vestir de Leonard Zelig e agir como camaleão para aprovação alheia.

Então, é tempo de planejar, pensar antes de falar e, só então arriscar. Ainda assim com grandes chances de errar. E errar feio!
Pra recomeçar vai ser proibido comparar com os tempos de atalhos.

Para o próximo terço de vida sugiro que guardemos um dos pedidos ao gênio... um pedido por amor.