30 novembro 2009

Escravos de Ganho


Os escravos de ganho eram conhecidos à época do Império por realizarem tarefas remuneradas, entregando ao seu proprietário (senhor) uma quantia diária do salário que recebiam trabalhando. Assim acreditavam estar comprando sua liberdade. Algo muito parecido com as organizações de trabalho hoje não é?

Tratados como desconjurados em uma selva onde aqueles que poderiam dividir a maior parte da vida - colegas de trabalho - viram vorazes predadores e qualquer problema se sentem ameaçados pela perspectiva de alguém ter traído a confiança e entregado ao seu algoz. E caso perca aquilo, perderá tudo. Caso tenha um novo trabalho, não irá se dedicar. Afinal, é mais um trabalho ameaçador e temporário.

As pessoas são contratadas para uma vaga, trabalham por duas, são remuneradas por metade de uma delas na esperança de um dia serem donas do próprio nariz.

Nessa roda desafortunada dançam funcionários, colaboradores, PJ´s, contratados, celetistas, celetistas FLEX, efetivos, quase efetivos...

23 novembro 2009

Academia

Me disseram que eu iria ter mais disposição. Cada vez mais cansado......

15 novembro 2009

Corpo meio cheio ou meio vazio?


Em busca de segurança feudal e troca das dores da liberdade pelo pertencimento ao grupo e segurança, algumas drogas receitáveis parecem aflorar um aspecto imanente da natureza humana. Comer é fundamental para sobreviver. Comer muito serve para além de preencher o vazio do estômago, preencher o vazio da alma ou aquietar a mente. Como se nada dentro de nós pudesse ficar vazio. Boca, garganta, estômago, intestino grosso, delgado, reto.

Algo como se no decorrer de nossos dias as mãos não pudessem ficar vazias por muito tempo e, por isso os anéis, as canetas, os cigarros, as armas, as luvas e os carros. Nem sequer pés desnudos: as caminhadas, academias, esteiras, bicicletas, sapatos, escalda-pés, kung-fu e capoeira. Nem mesmo a alma. Amores, religiões, drogas, meditação, regressão de vidas passadas, presentes e tarô.

E a mente? Terapia, artes, conversas, diálogos, triálogos, bacanais, escola, mais escola, congressos e cursos, palestras, livros e filmes. E então, quando percebemos as mãos estão doloridas e o dedo indicador paralisado com tendinite pelo scroll do rato que mexe o cursor do computador.

E o estômago com câimbras agudas por ter engolido tanta comida, traumas, desmandos e prazeres. Spinoza disse para fugirmos das paixões tristes. E o capitalismo, o que diz? Que não se destrói se supera. Os incômodos não são “antecedíveis”, então, evite os exageros diários. Se fosse assim seria fácil. Alguém aí consegue lembrar o quanto sofreu da última vez que comeu em exagero, apaixonou-se, quebrou o pé, o dente, teve cólica renal? Sempre esquecemos e superamos aquele ponto. E reincidimos. E se é assim, que seja reincidir pelas paixões felizes.

09 novembro 2009

Calvário

Quando deu 16h recebi uma ligação:

- Ricordo?
- Sim, sou eu.
- Antonio, tudo bem? Tô te ligando pra falar que consegui um preço melhor...
- Hum....
- Você vem hoje?
- Pode ser...
- Às 19h30?
- Pode ser...
- Não vou estar aqui. Procure o Eric.

Bom a partir daí comecei a gelar. Taquicardia.

Indo para lá pensei em desistir. Parecia um blind date.

- Oi Ricordo. Você veio!
- Pois é, mas tô pensando em não ficar.

E eis que uma criatura alucinada que costumava jogar barras de cereal na balada justificando que era pra quem estava fritando ter um pouco de açúcar grita:

-Ricooooooooordo. Você!!! Entra logoooooooooooo. Vem vem!!! Libera pra ele. É meu amigo.
- Não não.... só vim dar uma passadinha.

Resultado. Não teve escapatória. Fiz a matrícula. A academia começa amanhã pra mim.


08 novembro 2009

A volta dos Lanterninhas

Há algum tempo tenho tentado entender o que se passa nas salas de cinema de São Paulo. Que embotamento é esse para experimentar arte? Será que cinema ainda é arte? Equipamentos de som de 'última geração' (sucata alheia ou não sempre melhor ao que já tínhamos por aqui); poltronas mais espaçosas; IMAX; a maior tela da América Latina e tantas outras melhorias para tornar uma sessão de cinema uma experiência única (não era esse o conceito de arte? (cadê Adorno para criticar a indústria cultural nessas horas?)

Certo, acho que é exatamente isso que acontece. Uma experiência de auto- controle. De paciência. De animalidade. Sim, porque é exatamente essa impressão que tenho tido ao assistir filmes nas mais diferentes salas de cinema.

A primeira tentativa foi O Anticristo no Shoping Bourbon (Unibanco). Filme de Lars dá para imaginar o sofrimento não dá? Pois é. Acho que ele mudou o estilo para comédia e eu não consegui entender. Afinal, a cada tomada sobre o anticristo que temos dentro de nós algumas pessoas riam copiosamente. E foi assim o filme todo. Conversando com a gerente do cinema a justificativa foi que tinha gente de todo tipo ali. E não é assim o mundo? Gente de todo tipo? Estou sem entender até agora. Claro que fiz uma sugestão/ reclamação (era a segunda vez que via um filme dramático com as pessoas gritando e rindo. Alguém entende as pessoas ficarem rindo da miséria humana? O outro filme foi o tenso Salve Geral). Sugeri os famosos 'lanterninhas'. Ninguém me respondeu.

A segunda vez foi no Shopping Vila-Lobos. Agora, Cinemark. Dessa vez para ver O Contador de Histórias. Mais uma vez um bando de adolescentes (esse deve ser o coletivo para a maioria dos adolescentes- BANDO) que riam da ingenuidade da simpática e otimista Maria de Medeiros de Margherit Duvas.

Então percebi qual seria o provável problema. Salas de cinema dentro de shoppings Center. Essa semana fui assistir curioso Deixe ela Entrar. Dessa vez no Espaço Unibanco. As pessoas não gritavam... muito. Mas, como nada é perfeito o filme foi projetado na decadente sala 4. Cheiro de mofo, cadeiras esgarçadas, áudio descompensado e gente entrando atrasada, e passando na frente de quem chegou no horário sem a menor cerimônia.

Fui eu que fiquei rabugento ou as pessoas têm cada vez mais noção sobre os limites espaço público?