Durante muito tempo fiquei tentando me reencontrar. Muitas dúvidas e incertezas pairaram acerca do que fantasiava sobre mim. Se fosse o que meus sonhos diziam, tentaria procurar uma forma de voltar a ser.
Na busca por tal quimera, desafiei meu próprio corpo longos períodos não datados. Passei por tormentas, inadequações, procura por caminhos ditados por especialistas – os tais ‘corretos’ para recuperar a tal homeostase.
Adoeci. Fiquei sem forças, envenenado pelas minhas próprias crenças do que seria o padrão para todos. Lua após lua soterrei a construção de minhas próprias narrativas.
Um mapa natal pré-fabricado do que deveria ser certo. De uma gravidez planejada e tratamentos de fertilidade para cavar uma nova vida, ninguém precisava se preocupar mais comigo. Eu mesmo já fazia isso em excesso. Faltava o ar. E o mesmo elemento faltou na infância como asma, na adolescência como síndrome do pânico e na entrada da fase adulta, entre um cigarro e outro.
Seres humanos em geral pensam, sentem e enterram seus mortos. Eu, só queria saber o porquê. É como se no momento em que soubesse o motivo para isso reencontraria algo que fui antes de nascer. Mais sóis se sobrepuseram às luas na caça pelo natimorto que me tornava. No entanto, faltava entender que o encontro não era com os mortos, mas com os vivos.
Sorrateiro o destino foi cruel. De uma truculência avassaladora até clamar com energia por ajuda à providência divina: “Se Deus existe, está na hora d´Ele me ajudar...”. E nada deus respondeu. Era hora do deus em mim fazer algo.
Não sei se algum dia fui o que penso ser. Mas sim, sei que quero ser o que imagino pra mim.